19.11.07

Mensagem de uma família a propósito do espectáculo «O mundo mesa»


Fui hoje, com a minha filha e uma minha sobrinha, assistir a uma representação d’”O mundo mesa”. À saída pediram-me que desse a minha opinião sobre o espectáculo, o que não consegui aí fazer por um imperativo fisiológico: a minha filha “estava aflita”. Faço-o agora, esperando que a minha opinião, sendo sincera, não ofenda, e, sendo oferecida, não desmereça a vossa consideração.

Começo por dizer, frontalmente, que não gostei do espectáculo! E o que se passou hoje havia-se já passado, comigo, com a minha mulher e com a minha filha, n’”O mistério da visita”, a que assistimos há duas semanas. Logo à saída da sala, dores de barriga e de maxilares, e a minha filha “aflita”; tudo, sem dúvida, consequências do tanto rir. Depois, durante o resto do dia – e a julgar pelo que sucedeu com “O mistério da visita”, durante o resto do mês e, quem sabe, do ano – o não parar de pensar e de falar em “Estufinhas”, “ONI”, “Pum Pum Beijinho Beijinho”, homens do lixo... eu sei lá. E indo de mal para pior: por vossa causa, por causa da vossa superlativa habilidade de encenar, entusiasmar e encantar estes quatro espécimes de duas gerações – eu e a minha mulher, a minha filha e a minha sobrinha – quedo-me agora envergonhado de sequer pensar em fazer as flácidas tentativas de teatrinho caseiro com que suavemente sonhava, eu pai-argumentista-encenador-actor, como forma de estimular a imaginação e criatividade de toda a família. Finalmente, e o pior de tudo, por vossa causa ficámos uns viciados: ainda não tinhamos saído da sala e já a minha filha pedinchava “Ó papá, para a semana o que é que vimos aqui ver?”. E eu, que ando até enraivecido de não ter podido assistir ao tão falado “Ai que medo”, e que sonho já com a próxima oportunidade de, a troco de uns poucos euros – e quão poucos por tanto – poder sonhar um qualquer vosso sonho, e fazê-lo também meu num regresso inesperado ao menino que somos todos nós?

Isso não se faz!

Com alguma mágoa, mas esperando não ter ofendido,

Jorge Morais.


PS: mais uma vez os meus sinceros agradecimentos pelo vosso excelente trabalho, e é claro que aí estarei, com a minha família, no "Eunice", e no que mais venha a seguir.

Um abraço para toda a equipa, de mim e da Paula, minha mulher, e beijinhos da Ana e do Pedro, que ainda é muito pequeno para estas coisas, mas que está a crescer...
(email recebido pela produção do Serviço Educativo do Teatro do Campo Alegre e que muito nos alegra partilhar aqui com todos vocês. Fotografia: PAT)

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